4000 semanas: uma reflexão sobre o tempo e a finitude

Oliver Burkeman é jornalista e autor. O seu mais recente livro intitula-se Four Thousand Weeks - Time and How to Use It e é um convite a parar e pensar sobre o tempo, a finitude, mas também sobre o trabalho, a procrastinação, as escolhas e os limites.

Oliver Burkeman é jornalista e autor. O seu mais recente livro intitula-se Four Thousand Weeks – Time and How to Use It e é um convite a parar e pensar sobre o tempo, a finitude, mas também sobre o trabalho, a procrastinação, as escolhas e os limites.

Vale a pena investir parte das nossas 4000 semanas de vida na leitura deste livro, será um tempo certamente bem investido. O autor não apresenta receitas prontas para cada uma das pessoas leitoras, mas sim pistas para entendermos alguns mitos criados em torno da produtividade e da procrastinação, por exemplo.

Um dos pontos importantes do livro passa por compreender e aceitar que o nosso tempo é limitado e que a finitude nos constitui. Parece óbvio, porém é uma verdade com a qual temos dificuldade em relacionar-nos.

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📷 Aron Visuals / Unsplash

10 ferramentas para abraçar a finitude

No final do livro, Oliver sugere 10 ferramentas que podem ajudar-nos no processo de reconciliação com a finitude. Vamos fazer batota e saltar já para as últimas páginas?

Escolher e fazer uma coisa de cada vez

Desengane-se quem pensa que vai conseguir fazer tudo o que é importante. Acreditar nisto implica manter um estilo de busyness tal que poderá deixá-la/o assoberbada/o, qual Sísifo a empurrar a pedra dia após dia, monte acima, só para a ver a rolar por ali abaixo.
Em vez de encher o seu dia com tarefas e mais uma coisa importante e ainda outra; ou de passar 2h a responder a e-mails para ter a caixa de entrada a zeros (até que comecem a entrar novos e-mails), experimente simplesmente fazer uma coisa de cada vez. Não temos de fazer tudo, agora.
Talvez o carpe diem signifique negar mais do que afirmar, entenda-se, passa mais por recusar fazer coisas do que aceitar tudo o que os outros dizem que é importante fazermos, agora. Para criar tempo para aquilo que importa, importante abandonar algumas coisas pelo caminho.

Escolher aquilo no qual vamos falhar

Será inevitável falhar nalguma coisa. Não conseguimos ser muito bons em tudo aquilo que nos propomos fazer. Bukerman recomenda que cada um de nós possa estabelecer quais as áreas onde não vai ser excelente ou muito bem sucedido. Sim, eu até podia dedicar-me à arte de fazer bainhas de forma exemplar, mas decido não o fazer. Prefiro canalizar a minha energia para outras coisas: o trabalho, a saúde, as minhas relações, a família.

Afinar o volume da produtividade

Uma vez que não vamos conseguir fazer tudo o que queremos, nada melhor do que estabelecer limites. Bukerman sugere que tenha duas listas por perto: a to do list aberta e a to do list fechada. A primeira vai incluir aquelas coisas que temos em mãos e que são um constante work in progress. A segunda lista tem no máximo 10 coisas para fazer e só podemos adicionar uma nova tarefa quando concluímos alguma.
Defina o tempo diário que vai dedicar ao trabalho e cumpra as tarefas a que se propõe dentro desse mesmo horário.
Ter uma hora para começar e outra para acabar o seu dia de trabalho dá-lhe um horizonte para que possa ir tomando decisões ao longo do dia e cumprir com esses horários.

Focar no que está feito e não no que ainda falta fazer

Bukerman recomenda que alteremos a nossa atitude perante aquilo que já fizemos e o que falta fazer. Sugere que tenhamos uma folha em branco por perto, a “DONE LIST” onde possamos inscrever aquilo que fizemos. Cada item que acrescentamos à lista é uma oportunidade para celebrarmos o que está feito – em vez de olhar para a “TO DO LIST” e pensar no que ainda falta fazer. No fundo, Bukerman convida-nos a celebrar os pequenos passos.

Escolher as batalhas

Seja pelos media ou pelas plataformas de social media é muito fácil preocuparmo-nos com um sem número de coisas. Sabemos que há injustiças e atrocidades pelo mundo fora – e até à nossa porta. Deverá procurar uma escolha consciente das suas batalhas, do seu activismo, pois dificilmente terá energia (e tempo) para todas.
A nossa capacidade para nos preocuparmos e nos mobilizarmos também é finita.

Adoptar tecnologia aborrecida e com propósito único

No que a tecnologias diz respeito, menos é mais. Procure menos apps e torne-as mais aborrecidas (por exemplo, prefira os ecrãs em tons de cinzento). Tenha um rádio na mesa de cabeceira para despertar e deixe o telefone na sala. Evite aplicações para isto, aquilo e mais um par de botas, pois corre o risco de perder tanto tempo a perceber como tirar o máximo partido das aplicações, tempo que não consegue recuperar e durante o qual ainda não usufruiu dessas aplicações.
A Sandra Estevam já escreveu sobre minimalismo digital aqui no Journal – já leu? Não é importante, pode sempre fazer outras coisas com o seu tempo! 😉

Procurar a novidade nas coisas do quotidiano

A rotina pessoal ou profissional pode muito bem constituir um ponto de encontro com a novidade. Não será preciso mudar de cidade todos os anos para encontrar coisas novas à sua volta: já prestou atenção ao que a/o rodeia? Experimente fazer uma caminhada sem um rumo definido, só para ver o que encontra, experimente um caminho novo para ir para o trabalho, crie e mantenha um diário de perguntas.
Lembre-se: é possível treinar o pensamento criativo a partir da vida de todos os dias.

Assumir um tom de investigação nas relações

A necessidade constante de controlo sobre o nosso tema assume contornos problemáticos nas relações. Não saber o que vai acontecer a seguir é um terreno fértil para a prática da curiosidade. Não conhecer este ser humano que está perante mim e estar disponível para conhecer é uma forma de praticar a curiosidade.
Se quiser praticar a curiosidade de uma forma geral, espreite este artigo que preparámos para si.

Cultivar a generosidade instantânea

Burkeman assume que quando sente um impulso súbito de enviar uma mensagem a um amigo ou dar dinheiro, prefere acompanhar esse impulso, ao invés de deixar para mais tarde, depois de despachar aquela tarefa urgente ou quando tiver algum tempo livre.

Praticar o “fazer nada”

Neste ponto, o autor de Four Thousand Weeks cita Pascal, referindo-se à incapacidade do ser humano em ficar quieto no seu quarto. Desta incapacidade deriva a infelicidade, defende Pascal.
Burkeman considera que para abraçar estas semanas de tempo e de vida é essencial praticar o fazer nada. Segundo o autor, se não conseguimos suportar e lidar com o desconforto de fazer nada, é muito provável que façamos escolhas pobres quando temos de decidir o que fazer com o tempo. Fazer nada é tecnicamente impossível: se estamos vivos, estamos a respirar, estamos sentados ou em pé ou encostados à parede. Assim, fazer nada significa muito mais treinar a tentação de estar sempre a fazer algo, de estar sempre agitada/o com isto ou aquilo.

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Já faz uso de alguma destas ferramentas? Considera usar estas ferramentas para lidar com o tempo e a finitude?

Photo by Malvestida on Unsplash

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