A Web Aleatória

É certo que um site, como uma casa, deve respeitar uma ordem básica de estrutura, para que possa acontecer. Mas existem muitos tipos de casas, assim como deveriam existir muitos tipos de sites, certo?

Browser web com pintura abstrata.

Vai que estamos desencantados com a Web em 2025

Isto é um website em 2025: Uma experiência altamente calculada e medida, para ir de encontro a um objectivo de negócio ou de comunicação. Tudo são regras, procedimentos e performance. Horas a desenhar, a afinar e a construir, para uma estrutura que esquece (ou afunda), quem não decide pôr-se de acordo com ela.

Sem pretender adotar um tom desmotivador, os dados existem em abundância, as métricas tomaram as rédeas e a conversão é o novo ponto de encontro no final de um dia de web. Isto é ótimo para a previsibilidade e também é bom para o negócio, mas se eu quiser apenas dar uma volta no parque, espairecer, e fazer algo sem sentido?

Browser web com ponto de interrogação em comic sans.

Igualdade para todos, mas não queremos ser todos iguais

A internet dos nossos tempos construiu-se de padrões e protocolos, coisas úteis que nos facilitam a vida. Boa. No entanto, estamos a começar não só a ver tudo igual, mas a identificar que existe algo estranhamente monótono neste site ou nesta rede que acabámos de consultar.

Torna-se estranho, quando se estranha o normal, e parte desta estranheza deve estar algures escondida na natureza humana. Na nossa capacidade de detectar padrões, de procurar algo mais, de querer quebrar com a monotonia. 

Aliás, numa altura em que perto de 90% do conteúdo online é produzido por IA (desculpem, teve que ser), sente-se no ar uma espécie de fadiga digital. E o que é que se pode fazer para mudar isto? Mais um site, por exemplo.

Browser web com imagem de rapaz atirando um avião de papel.

O luxo de poder fazer o que bem me apetecer

E assim deveria ser. O meu site, os meus textos, cores, imagens, pisca pisca, que seja. Como eu quero. E depois logo se vê se vai para aquela rede, ou por email. O site, será em última instância, o bocado de individualidade que falta à Internet neste momento.

“Ah! mas nem toda a gente precisa de um site!”, dizem vocês. E ainda bem, mas é bom saber que se pode ter um e que existem cada vez mais alternativas para os que têm menos literacia digital. Podem espreitar o micro.blog, se estiverem à procura disso mesmo.

Browser web com logo da indieweb.org.

Há sempre a revolução como opção

As pessoas por detrás do projeto IndieWeb acreditam que um domínio pessoal é a primeira instância da identidade digital de alguém, ao invés de primeiro agregar e desmultiplicar a nossa identidade por várias outras entidades terceiras, vulgo redes sociais. 

A proposta é interessante e o trabalho deles vai um pouco além, na tentativa de criar uma web mais descentralizada, como alternativa à web corporativa. Mais centrada na agência pessoal, com mais humanidade e propósito. 

Para nós, a tónica fica na pergunta: mas afinal o que é ou pode ser um site? Na esperança de restituir o inusitado, a descoberta e as experiências não pensadas. Porque afinal, empresas são empresas e pessoas são pessoas.

Browser web com reação de intriga, feito com símbolos e texto.

Guardar espaço para o inesperado

Uma ideia disso mesmo, são os sites do artista Rafaël Rosendaal. Pedaços mínimos de código, com um máximo impacto visual e espacial. Que tipicamente como a arte, não têm um propósito, mas continuam a ser um site. Podem aprender mais sobre o trabalho deste artista ou transformar os vossos próprios sites em imagens abstratas.

A web pode ser isto, mas não tem necessariamente de ser arte. No final de contas, pode simplesmente ser a nossa forma de estar online, a forma como queremos estar presentes. 

Dito isto, queremos incentivar à criação do que passaremos a chamar por agora, o não-site. Uma forma de estar online, despreocupada de convenções, de métricas e aparências. E estamos cá para ajudar, indicar e desenhar, se for caso disso.

Browser web com imagem de tenda.

Pode ser uma questão de encaixe

O não-site, pode ser difícil de imaginar. Afinal de contas, esta é uma proposta para tentar fugir à norma.

Comece-se por entender o site como uma estrutura. Enquanto que empresas grandes precisam de estruturas fortes e robustas, que por sua vez, são demoradas e complexas de construir. Os sites para um indivíduo ou uma pequena empresa podem tirar partido de estruturas simples e até precárias.

A ideia de estrutura precária não é necessariamente má, se for entendida como ágil, rápida de construir e de baixo compromisso. Algumas destas ideias podem ser encontradas em conceitos como a arquitectura parasítica, e em parte a ideia é essa mesmo. Isto permite, por exemplo, escolher uma solução desprovida de editores e plugins complexos, ou adoptar um formato de uma página única ou landing page. 

Se por um lado se reduz a complexidade, por outro, permite-se que a marca (ou a pessoa!) possa arriscar mais na imagem e identidade do site. Atenção, ainda estamos a falar de estruturas simples (e modulares!) que têm o poder de desafiar as normas e as convenções da atualidade, e criar novos sentidos e narrativas.

Os próximos tempos são incertos e podem de facto ser precários. Escolher soluções simples, ágeis e com poder de adaptação, pode ser uma abordagem sensata e quem sabe, acertada. Do nosso lado, deixamos a maturar o não-site e ficamos sempre abertos à conversa de tudo isto, sobre um café.

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