Formação à distância, a única possibilidade
Em Março de 2020 fomos empurrados para a frente do ecrã e este passou a albergar o trabalho, o lazer, a formação e até os jantares com os amigos e colegas da empresa. O confinamento colocou em curso planos de contingência, de emergência, de urgência com vista a manter-nos em actividade e “à distância”.
O sector da formação não foi excepção. Ainda que alguns de nós já tivessem alguma experiência com ensino em regime de b-learning, a verdade é que o facto de não ter escolha (do ponto de vista do formando) e de não poder ter portas abertas (do ponto de vista dos centros de formação), exigiu uma rápida adaptação à realidade cóvidiana.
Num artigo RH Magazine, a jornalista Beatriz Cassona, em conversa com Nuno Freixa Rodrigues (NAU), assinala o online como uma opção viável:
A pandemia veio acelerar os processos de aprendizagem online, com o formato presencial de formação cancelado e o formato digital a somar pontos. «O que há uns meses era olhado de forma “ameaçadora” e até com alguma desconfiança, tornou-se o dia a dia da sociedade e, como tal, as vantagens do ensino online e da aprendizagem contínua sobressaíram», adianta Nuno Feixa Rodrigues. A aprendizagem online tem sido uma opção para profissionais, tanto a nível pessoal como profissional, pelo que «é expectável que este comportamento venha a determinar mudanças importantes no sistema de ensino e formação, em particular na forma como será encarado daqui para a frente».
Nem todos tivemos a oportunidade de ter aulas com a professora Adelina Moura ou com a Teresa Pombo, que partilham imensos recursos e experiências em sala de aula de integração de elementos digitais, na aprendizagem. As dificuldades e as conquistas foram sentidas de forma diferente, por cada um de nós.

“Plataformas há muitas, seu palerma!”
Com ou sem experiência no ensino à distância, os formadores tiveram de adaptar conteúdos ao formato exclusivamente online. Os centros de formação tiveram de criar condições logísticas e de acesso para formadores e formandos.
Garantir que as pessoas conseguem navegar nas plataformas é essencial. Dar-lhes segurança e apoio nessa caminhada, sem assumir que “toda a gente sabe trabalhar com plataforma X ou Y” é um passo essencial para que haja uma boa experiência. Digo eu e diz um estudo da Georgia State University (2020):
(…) the report noted that logistical issues like accessing materials—and not content-specific problems like failures of comprehension—were often among the most significant obstacles to online learning. It wasn’t that students didn’t understand photosynthesis in a virtual setting, in other words—it was that they didn’t find (or simply didn’t access) the lesson on photosynthesis at all. (Youki Terada, Stephen Merrill, Edutopia)
Organizar, apoiar e pedir feedback
A organização da sala de aula virtual é fundamental para que consigamos ter os formandos a acompanhar os trabalhos. Não basta criar e dar acesso, há que apresentar “os cantos à casa”, acompanhar, comunicar de forma clara, fazer tutoriais ou breves manuais de apoio. Outro aspecto fundamental passa por pedir feedback de forma mais regular e repetir informações importantes como datas e formatos de aula:
Remote teachers should use a single, dedicated hub for important documents like assignments; simplify communications and reminders by using one channel like email or text; and reduce visual clutter like hard-to-read fonts and unnecessary decorations throughout their virtual spaces. (Youki Terada, Stephen Merrill, Edutopia)
A evitar: pegar no que fazíamos em sala e replicar no zoom, sem adaptar
No seu blog, a Helena Dias assinala o seguinte:
Segundo a Microsoft, ao longo dos últimos 18 anos, o tempo médio de atenção de um humano diminuiu de 12 para 8 segundos – o que é inferior ao de um peixe dourado!
Ninguém vai querer (ou mesmo conseguir) ouvir-nos a falar ou olhar para slides sem rosto horas a fio.
É importante identificarmos coisas específicas que queremos que os alunos aprendam e exponham, no máximo durante 30 minutos. Depois, sugiram material de leitura, vídeos ou podcasts que complementem o tema da aula.
Há muitas plataformas e muitas ferramentas que nós, formadores, podemos usar para ajudar os formandos a ter uma boa experiência de aprendizagem. Não é realista pensar que a sessão que tinha 3h em modo presencial (entenda-se, na sala de formação) vai ter a mesma adesão através de um sistema de videoconferência.
O cansaço de estar a olhar para o écran, de nos concentrarmos para ouvir bem e com clareza é enorme e o mais razoável é fazer blocos menores de videoconferência e complementar com material de apoio e outras formas de interacção. Um exemplo: usar um twitter chat para promover o debate e a aprendizagem.
E outra coisa importante: um ano depois, ainda estamos a viver uma crise de saúde pública. O contexto continua a ser duro para todos e temos de ter isso em conta:
https://twitter.com/TaylorLorenz/status/1352169679205199874?s=20
A linguagem específica da formação à distância
Hoje em dia podemos ter aulas síncronas ou assíncronas. Outros usam a expressão “aulas em directo”. Vamos fazer um live. “A acção decorre em ambiente webinar.” Há quem diga que as aulas no zoom são presenciais, por exigirem a presença das pessoas. Mas presencial não é na sala, assim de corpo presente?
Pode ficar confusa a comunicação, por isso é importante comunicar de forma clara, criando um glossário próprio se necessário.
E aprendemos ou não?
A taxonomia de Bloom apresenta-nos uma hierarquia de objectivos educacionais. Matthew Lynch apresenta este cruzamento entre a famosa taxonomia e o presente contexto, bastante digital:
The purpose of Bloom’s Digital Taxonomy is to help educators use technology and digital tools to facilitate student learning experiences and outcomes. Each level is paired with a description of its importance and examples of the digital tools that connect with this taxonomy framework.
Formação: um processo em que a relação faz a diferença
Neste contexto cóvidiano e pandémico, a formação presencial, em sala, não voltou a ser a mesma: os espaços outrora preparados para 20 pessoas têm de ter menos pessoas, para garantir distanciamento. Nalgumas salas há acrílicos a proteger formandos e formadores. O uso de máscara é obrigatório, as entradas fazem-se por um lado, as saídas por outro. Os dispositivos de álcool gel passaram a fazer parte da “mobília”. E como o contexto é incerto, temos de manter a disponibilidade para um ensino 100% à distância ou em modelo híbrido.
Vamos assumir que a maioria dos formandos se inscreve na formação para aprender, para adquirir competências, para treinar X ou Y – e não somente para obter os slides e o certificado.
Vamos assumir que os formandos têm paixão pela transmissão de conhecimento, pela curadoria de informação e que estão dispostos a aprender com os seus formandos.
Neste mundo ideal, com ou sem #covid19, a formação será um processo no qual o sucesso depende do envolvimento de todos os agentes. A relação é o grande desafio do ensino, sobretudo do ensino à distância, seja em ambiente de formação ou de escola:
In 10 years, students will not remember the goals for lessons, but they will remember that you sent a card and called to check in. The importance of teacher-student relationships is clear: Knowing students well is the foundation of teaching. And as this crisis has unfolded, it’s these relationships that have mattered the most. (Katy Farber, Edutopia)
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