A receita é que não há UMA receita

Quando se trabalha e se investiga na área do pensamento crítico deparamo-nos com algo que se revela um problema para algumas pessoas: o “depende” como uma resposta honesta a uma pergunta.

Porque é que o “depende” é um problema? A grande razão diz respeito à busca pela resposta pronta, digerida e à qual se mistura água e já está.

Como é que se faz para conviver com o “depende”? Depende unicamente de cada um de nós. Eis algumas pistas que podem ajudar e que são partilhadas por Adam Grant no seu livro Pensar Melhor.

Curiosidade: uma das referências de Grant é Kahneman (um dos autores de Pensar Depressa & Devagar) que já foi mencionado aqui no Journal.

Interiorizar que vamos errar

Vamos errar. Vamos tomar más decisões pela vida fora, mesmo depois de aprendermos técnicas que nos permitem pensar melhor. Daniel Kahneman alerta para o facto do pensamento cuidadoso e ponderado exigir tempo e energia. Ora, não podemos dedicar um tempo e energia igual em todas as decisões que temos de tomar.

Grant refere no seu livro que devemos acolher a alegria de estar errado:

“Quando descobrir que cometeu um erro, tome-o como sinal de que descobriu algo novo. Não tenha medo de rir-se de si próprio.” (p. 308)

Mais uma vez: nem todos os erros nos permitem esta alegria. Depende do erro e Adam Grant foca-se sobretudo nos erros de raciocínio, na tomada de decisões, nas opções que fazemos entre isto e aquilo.

Suspender o juízo

Menos opiniões, por favor. Evite estar constantemente a emitir opiniões, escolhendo os assuntos nos quais pretende mesmo posicionar-se.

Adam Grant recomenda:

“defina a sua identidade em termos de valores e não de opiniões”, querendo com isto sublinhar a importância de nos mantermos curiosos e com disponibilidade para aprender e procurar saber. “À medida que vai formando opiniões, faça uma lista com os fatores que poderiam mudar a sua opinião.” (p. 308).

Falar menos, escutar mais, perguntar melhor

A prática da escuta é essencial para que possamos pensar melhor e repensar o que já pensámos. Essa escuta exige silêncio e também a prática do perguntar. Fazer perguntas à pessoa que está a falar revela interesse e também dá oportunidade para que a própria pessoa compreenda ou esclareça o seu pensamento.

Uma vez esclarecidos os motivos (o porquê) para defender uma ou outra posição, Grant defende que se explore o “como”. Como é que colocaria a ideia em prática? Explorar este “como” permite-nos explicar a ideia e compreender quais os limites da nossa ideia e da nossa percepção.

Segundo o autor, perguntar “como” permite começar a moderar as opiniões que defendemos.

Outra pergunta que pode ser fundamental é o “como é que tu sabes?”, pois muitas das nossas opiniões não têm um fundamento muito claro. Foram criadas arbitrariamente e não têm dados a sustentá-las, sem pensamento cuidadoso a orientá-las.

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Adam Grant defende que devemos argumentar como se estivéssemos certos e ouvir como se estivéssemos errados. Uma tarefa difícil e que devemos colocar na lista “to do” diariamente. Como dizem por aí, “it’s a full time job”. Não há UMA receita. Depende.

Se é fã de podcasts, considere ouvir Adam Grant e convidados no ReThinking (disponível, por exemplo, no spotify).

Photo by Nong V on Unsplash

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