O efeito Dunning-Kruger

Por vezes, o ser humano confia demasiado naquilo que sabe e, na verdade, não sabe assim tanto ou tão profundamente sobre um determinado assunto. Alguém que é muito bom numa dada área pode sobrevalorizar aquilo que sabe numa outra área. Senhoras e senhores, eis o efeito Dunning-Kruger.

Por vezes, o ser humano confia demasiado naquilo que sabe e, na verdade, não sabe assim tanto ou tão profundamente sobre um determinado assunto. Alguém que é muito bom numa dada área pode sobrevalorizar aquilo que sabe numa outra área. Senhoras e senhores, eis o efeito Dunning-Kruger.

“Só sei que sei muito sobre quase tudo”

Há quem seja muito bom a fazer de conta que sabe aquilo que não sabe. O uso excessivo de jargão pode ser um sinal disso mesmo. Se a pessoa usar palavreado muito técnico e quase indecifrável, nada como fazer algumas perguntas de esclarecimento para nos ajudar a compreender se a pessoa sabe tanto sobre o assunto como parece.

Perguntar: “Pode explicar melhor isto?” “Como é que explica aquilo?” – ou ainda, solicitar as fontes ou referências do conhecimento. Dependendo do tópico, se a resposta for “li num artigo” ou outra resposta embrulhada em vagueza, pode ser um alerta de que não houve uma pesquisa atenta sobre o tema.

Humildade confiante

O efeito Dunning-Kruger permite-nos cultivar a humildade, no sentido em que nos convida a conhecer os nossos pontos fracos e os nossos pontos fortes.

O efeito Dunning-Kruger ajuda a recordar que quanto melhor pensa que é, maior é o risco de estar a sobrestimar-se – e maiores são as possibilidades de parar de melhorar. Para evitar o excesso de confiança no seu conhecimento, reflita sobre como pode explicar melhor um determinado assunto.

Adam Grant, Pensar Melhor, p. 308

Alguém que inicia uma certa actividade age com menos confiança e por isso dificilmente escorrega para uma atitude de aparente especialista sem conhecimento de causa.

No livro Pensar Melhor, Adam Grant descreve a humildade confiante como “ter fé na nossa capacidade enquanto reparamos que podemos não ter a solução certa nem estarmos, sequer, a tratar do verdadeiro problema. E isso dá-nos uma dúvida suficiente para reanalisarmos o nosso velho conhecimento e confiança necessária para procurarmos novas visões.” (p. 63)

O equilíbrio entre a confiança e a dúvida face àquilo que sabemos ou às nossas capacidades exige uma prática constante. Por um lado, queremos evitar a dúvida que nos paralisa e cultivar a dúvida que nos permite voltar a pensar no que sabemos ou rever processos. Por outro lado, queremos evitar a arrogância que me impede de reconhecer que há coisas que não sabemos ou que há outras pessoas que sabem mais e melhor do assunto do que nós e cultivar a confiança para considerar que aquilo que sabemos é um bom ponto de partida para voltar a pensar ou a pesquisar sobre o tópico.

Dunning-Kruger vs Impostor

No capítulo O Treinador de Bancada e o Imposto, Adam Grant coloca em diálogo o efeito Dunning-Kruger e a Síndrome do Impostor. O psicólogo e consultor considera que os medos de impostor não devem ser ignorados, mas sim acolhidos.

Um dos motivos para esse acolhimento relaciona-se com o facto do sentimento de impostor funcionar como motivação para nos empenharmos mais.

Outro motivo: essa sensação pode também motivar-me para trabalhar de um modo mais inteligente, pois a síndrome de impostor posiciona-nos num lugar de principiante e de pessoa que coloca em causa pressupostos que já se encontram de alguma forma cimentados.

O terceiro motivo apresentado por Grant diz respeito ao efeito da síndrome de impostor no processo de aprendizagem: partilhar as nossas dúvidas em torno daquilo que sabemos e das nossas capacidades resgata-nos de um espaço cristalizado e permite-nos atender a outras perspectivas.

Os grandes pensadores não têm dúvidas por serem impostores. Eles mantêm dúvidas porque sabem que todos somos parcialmente cegos e estão empenhados em melhorarem a sua visão. Não se vangloriam de quanto sabem: maravilham-se é com o pouco que compreendem. (p. 72)

Um pequeno e grande passo: dizer “não sei”

A prática da humildade intelectual começa por admitir aquilo que não sabemos, que não sabemos tudo, que mesmo um especialista dificilmente estará a par de tudo o que é pensado, publicado, discutido na sua área.

Num artigo de Janeiro 2021 na Revista Visão, a jornalista Clara Soares cita o psicólogo social David Dunning e sublinha quão desafiante é esta prática de humildade:


“Temos de conhecer os nossos limites e tolerar aqueles que discordam de nós, uma vez que até podem estar mais próximos da verdade do que julgamos.” Um desafio e tanto, na medida em que requer treino, trabalho, esforço, embora o principal obstáculo a vencer seja a superioridade ilusória e dispor-se a ter uma atitude mais disponível: “É preciso ter a humildade intelectual de reconhecer que simplesmente não sabemos.”

Photo by Volodymyr Hryshchenko on Unsplash

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