O desafio para escrever sobre o papel do podcast na educação, surgiu por parte da FLAG, e foi publicado a primeira vez na Marketeer. Hoje vou revisitá-lo e adicionar mais algumas linhas a esta visão inicial.
E porque decido fazê-lo? Porque acho que já é assumido por todos que neste momento o podcast é um meio de comunicação essencial, capaz de chegar a vários públicos e audiências e que todos os dias surgem novos programas nas muitas plataformas de streaming.
Tem aquela enorme vantagem de poder ser consumido em andamento ou noutra actividade qualquer, ocupando apenas um dos nossos sentidos. Há até pessoas capazes de ouvirem uma coisa e fazerem outra… não sou eu. Mas gostava, sempre conseguia ouvir mais e não aumentar a wishlist.
Vamos também assumir que a referência a educação assume também uma referência a outras funções de passagem de conhecimento: formação, sensibilização, informação, …
Agora por partes:
O que é um podcast?
Vamos primeiro recordar o papel do áudio na transmissão de conteúdos. No princípio era a oralidade, as histórias e as estórias contadas de pessoa para pessoas, depois veio o registo áudio num suporte resistente ao tempo e à memória (ou à falta dela), a distribuição de suportes físicos (cassetes, cd’s, etc) e finalmente a difusão. Do eter ao digital levou tempo, mas já cá estamos.
E o podcast é basicamente um ficheiro de áudio, disponibilizado para audição por download ou pelo acesso a uma das muitas plataformas de streaming: Spotify, Apple Music, Google Podcasts…
É como se fosse um programa de rádio, mas que não é difundido na rádio.
A esta facilidade de acesso junta-se uma facilidade no consumo que já referi: podemos fazê-lo enquanto caminhamos, conduzimos, cozinhamos, praticamos exercício… ; mas também a enorme facilidade de produção.
Com algum investimento conseguimos comprar um bom microfone, usar um programa de gravação e edição de audio, adicionar uma boa ideia e um objectivo. Já está.

Podcast é fácil
Sendo fácil de produzir e distribuir, a chave do sucesso para um podcast em educação está na sua relevância e oportunidade.
Oportunidade no sentido de “já que vou estar uma hora no trânsito, posso aproveitar para ouvir” e relevância pelo potencial de prazer ou utilidade associado à audição. Ninguém quer ser “pausado”, “skipado”, “fastfowardado” ou “doublespeedado” e, por isso, devemos olhar, sem medos, para as dinâmicas do entretenimento e seguir os seus passos.
Contar histórias, criar personagens, trazer outras vozes e perspectivas, humor e ficção. Tudo o que possa agarrar a audiência e mantê-la activa na escuta é útil.
Podcast é storytelling
Também devemos ter presentes os conceitos do transmedia storytelling e avaliar que partes do meu conteúdo podem ganhar em ser distribuídas num podcast. Nem tudo tem que estar num video e muitos textos podem ser passados a audio, na mesma lógica dos audio-livros.
Os podcasts de entrevistas ou conversas são também boas abordagens. Não havendo uma restrição de duração nem imposições de grelha de emissão, o podcast pode durar o tempo que for bom para a conversa. O entrevistado não desembrulha, fica mais curto, é interessante e cativante, dura mais.
Já agora partilho a audição em curso e que recomendo:
A ausência de um estímulo visual ou a necessidade de manter um estímulo visual, não existindo, facilita audições longas. Giro não é? Morremos de tédio com um vídeo de 5 minutos e consumimos um podcast de hora e meia.
Podcast é mainstream
Lembro-me de consumir podcast através do iPod e na altura ser uma coisa ainda rara. Não havia banda larga nem streaming nem smartphones. Hoje é quase esquisito explicar isso a uma criança de 10 anos.
A facilidade de entrar numa plataforma, escolher, subscrever e começar a ouvir é total e por isso não tem atritos.
Recomendo a visita a este artigo da SemRush para algumas estatísticas sobre o consumo de podcasts em 2021 de que destaco duas:
1. 2021 holds the record for hours spent listening to podcasts with 15 billion hours compared to 12 billion just two years ago.
7. Most podcast listeners (75%) listen to learn new things.
Podcast na educação
Pensando então no meio adequado à “educação”, e imaginando alguns cenários de passagem de conhecimento:
- Entrevistar ou conversar com um especialista
- Explicar uma tarefa à medida que a vamos fazendo
- Passar conteúdos texto para audiolivro
- Criar audio-guias para visitas de estudo em modo independente
- Desenvolver resumos de obras que facilitem a imersão na obra
- Role play de situações ou cenas
- …
Deixo em aberto para outras abordagens que me ocorram ou que deixem nos comentários.
Em resumo
O podcast esteve moribundo mas agora voltou com uma nova vida a reboque das plataformas de streaming, portanto, se estamos mais perto da audiência, só temos que ser relevantes, seja a entreter, seja a educar, ou ambos, porque não vejo razão para não aprender enquanto me divirto.
Concluindo, o papel do podcast vai ser dar outra vida ao papel e a todas as actividades de educação ou formação. Basta que exista uma vontade, um propósito, uma audiência a cativar e tudo o resto são tarefas de Content Design. 🙂
O resto já sabem… comentem e acrescentem que nós gostamos sempre de ouvir outras ideias.
Fotografias de Mohammad Metri e Dan-Cristian Pădureț on Unsplash