Os 4 passos da comunicação não violenta

Comunicar faz parte da nossa essência enquanto humanos. Quando pesquisamos pelo sentido da palavra comunicação até parece simples: comunicar é pôr em comum, é partilhar informação com alguém. Comunicar é simples: levamos a informação do ponto A ao ponto B. Porém, envolve um número diverso de variáveis, desde a língua que se usa, o tipo de linguagem, o canal escolhido, o ruído que possa existir e a pessoa que recebe essa informação.

“Não é o que se diz, mas a forma como se diz.”

Autor/a: qualquer pessoa humana, pelo menos uma vez na vida

Até há pouco tempo desconhecia o que era a comunicação não violenta (também designada por CNV ou NVC, em inglês) e a partir de então passei a prestar mais atenção à forma como digo ou escrevo quando estou a comunicar com outras pessoas. Passo a explicar o porquê deste cuidado, começando por definir o que é a comunicação não violenta. Entretanto posso desde já adiantar que tenho falhado várias vezes nesta prática.

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Charl Folscher / Unsplash

O que é a comunicação não violenta

Quando pensamos em violência somos levados a pensar em algo físico. O que será então a comunicação violenta?

No livro Nonviolent Communication – A Language of Life, Marshall B. Rosenberg avança com o seu entendimento de comunicação violenta, ilustrando com alguns exemplos:

If “violent” means acting in ways that result in hurt or harm, then much of how we communicate – judging others, bullying, having racial bias, blaming, finger pointing, discriminating, speaking without listening, criticizing others or ourselves, name-calling, reacting when angry, using political rhetoric, being defensive or judging who’s “good/bad” or what’s “right/wrong” with people – could indeed be called “violent” communication.

A lista de exemplos é extensa e certamente cada um de nós já fez uma ou várias dessas coisas nos últimos dias ou mesmo hoje. É difícil não emitir juízos e bom ou mau, de certo ou errado perante acções dos outros (e as nossas). A comunicação não violenta admite essa dificuldade e apresenta algumas propostas para a contornarmos.

Antes de vermos como é que a comunicação violenta actua, vejamos o que nos diz Rosenberg ainda sobre o entendimento da CNV. Segundo o autor a comunicação não violenta integra quatro aspectos:

  • a consciência
  • a linguagem
  • a comunicação
  • os meios de influência

Compaixão, colaboração, coragem e autenticidade são os pilares que sustentam a consciência e a sua importância para a CNV. Ao referir a linguagem, o autor sublinha a compreensão do modo como as palavras contribuem para aproximar ou afastar. Saber como perguntar, como dizer a alguém que não concordamos com a sua ideia ou que estamos desconfortáveis com algo que foi dito ou feito é uma questão de comunicação. Por último, no contexto da comunicação não violenta, os meios de influência dizem respeito à partilha do poder com outros ao invés de usar o poder sobre os outros.

A comunicação não violenta sublinha a necessidade de estarmos alerta às condições, às circunstâncias em que ocorrem certas trocas de palavras. Praticar a compaixão implica não levar a cabo juízos de carácter moral, como este: “a pessoa X demorou tanto tempo a entregar este trabalho. Essa pessoa é preguiçosa.”

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Brett Jordan / Unsplash

4 etapas da comunicação não violenta

A técnica de comunicação não violenta é bastante útil e o passo a passo que Rosenberg apresenta em quatro etapas deve ser usado de forma genuína. Caso contrário, corremos o risco de parecer pouco humanos.

As etapas são:

  • observação
  • sentimento
  • necessidade
  • pedido

A observação é entendida como um momento em que colocamos em prática a suspensão do julgamento, permitindo uma atenção ao contexto – da situação ou da pessoa. Como é que se observa sem julgar? Uma observação com avaliação é dizer “tu és demasiado generosa”. Uma observação sem avaliação passa por dizer: “Quando te vejo a dar o teu dinheiro para o almoço a outras pessoas, eu penso que estás a ser demasiada generosa.” Nota: os exemplos são de Rosenberg .

Depois de observar, sem avaliar, damos lugar ao sentimento. O que sentimos quando observamos aquela acção? É algo que nos assusta? Algo que nos irrita? Algo que nos deixa felizes? E que sentimento gera essa acção noutra pessoa que não é?

A terceira etapa diz respeito à correspondência entre necessidades e os sentimentos que identificámos na etapa anterior.

E por último, o pedido. Depois de passarmos pela etapa de observar (sem avaliar), de compreender como nos sentimos e de associarmos as nossas necessidades a esse sentimento – então nesse momento, acontece o pedido.

Vejamos um exemplo concreto: o Frederico partilha mesa de trabalho com o Bruno. O Bruno tem o hábito de deixar as chávenas do café na mesa, depois de o beber, com restos do café lá no fundo, com a colher por perto. Por vezes até espalha um pouco de açúcar na mesa. O que pode o Frederico fazer?

O Frederico vai usar as etapas da comunicação não violenta para abordar a questão com o Bruno. “Bruno, quando vejo as chávenas de café acumuladas em cima da mesa de trabalho, sinto-me irritado pois precisava que este espaço em comum estivesse mais limpo e cuidado. Será que podes colocar as chávenas do café vazias na zona da cozinha?” Desta forma, o Frederico cria conexão com o Bruno, partilhando o que observou, o que sente sobre isso e o que precisa, bem como o pedido claro pela acção específica e concreta.

O processo de comunicação não violenta é simples, “mas”

Resumindo, a comunicação não violenta começa pela observação das acções específicas que afectam o nosso bem estar, passa pelo reconhecimento de como nos sentimos face àquilo que observamos, bem como das necessidades, valores ou desejos que estão na base dos nossos sentimentos; terminando no pedido das acções concretas que podem enriquecer as nossas vidas.

NVC helps us connect with each other and ourselves in a way that allows our natural compassion to flourish. It guides us to reframe the way we express ourselves and listen to others by focusing our consciousness on four areas: what we are observing, feeling, and needing, and. what we are requesting to enrich our lives. NVC fosters deep listening, respect, and empathy and engenders a respond compassionately to themselves, some to create greater depth in their personal relationships, and still others to build effective relationships at work or in the political arena.

Rosenberg, p. 12.

O processo é simples, porém não está isento de esforço, pelo menos numa primeira fase. Tal como alerta Edward de Bono, autor da expressão pensamento lateral, a simplicidade não é natural e exige esforço, pois implica conhecer muito bem aquilo de que estamos a falar. Se conhecermos bem o assunto, a simplicidade deixa de ser um trabalho difícil. A simplicidade é uma questão de treino, assim como a comunicação não violenta é uma questão de treino.

A pergunta para “um milhão de dólares” é: “como é que eu estabeleço conexões genuínas com alguém?” É algo que temos de treinar constantemente, sabendo que podemos falhar muitas vezes. A leitura do livro de Rosenberg é uma óptima ajuda para compreender a comunicação não violenta. Depois, a vida dá-nos várias oportunidades, a um ritmo diário, para colocarmos a CNV em prática.

Photo by Mika Baumeister on Unsplash

Referências:

Nonviolent communication, de Marshal B. Rosenberg

Pensando Bem – curso de pensamento crítico, de Vitor Lima (Isto Não é Filosofia)

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