Pensamento Criativo para totós

Se pensa que o pensamento criativo é coisa de artista ou de designer: desengane-se. O pensamento criativo é algo que todos nós podemos desenvolver e utilizar no nosso quotidiano, independentemente da nossa profissão.

Arrisco dizer que o pensamento criativo tem muito mais a ver com o processo do que o resultado. Afinal, o que é o pensamento criativo?

 

O que é o pensamento criativo?

Há várias definições de pensamento criativo. Uma pesquisa breve permitir-lhe-á encontrar várias abordagens.

Para Jason Buckley, o pensamento criativo diz respeito ao uso da imaginação, na procura de alternativas, no uso de analogias e metáforas. Está presente em movimentos de pensamento simples como considerar o “e se…” ou “será que…”, bem como na busca de outras formas para fazer o mesmo.

Um exemplo? Há anos que as dores lombares me atormentam. “São muitas horas sentada”, disse-me o médico. “Faça pausas e levante-se”, sugeriu o senhor. Ora e se eu não trabalhar sentada? Foi assim que investiguei e encontrei as opções de standing desk e hoje em dia alterno os meus dias de trabalho entre uma cadeira e o trabalho em pé.

 

Pensamento Criativo para totós 1

 

Esta solução – de trabalhar numa posição que não seja estar sentado – também tem sido aplicada nalgumas escolas.  No livro A Arte de Fazer Perguntas, W. Berger partilha este exemplo, na p. 69:

Como todos os miúdos de 12 anos, os alunos do 6.º ano da Escola Básica de Marine, em Mineapólis, tinham tendência para se remexer, atirarem-se para o chão, darem pontapés e não estarem quietos nas suas carteiras. Tinham energia em excesso e controlá-la exigia-lhes uma tal concentração para ficarem sentados e sossegados que depois mostravam dificuldade em se concentrarem também nos seus trabalhos escolares. A professora Abby Brown interrogou-se: E se eles não precisassem de ficar sentados e quietos? (…) ajudou a conceber um novo tipo de carteira com um assento mais elevado que põe o utilizador numa posição quase de pé, permitindo uma maior liberdade de movimentos.”

Trata-se de pensamento criativo, pois procura-se uma solução alternativa para um problema devidamente identificado. Neste caso a solução vai contra aquilo que conhecemos e consideramos “normal”: trabalhar sentado ou ter aulas sentado.

Edward de Bono, autor da expressão Pensamento Lateral, considera no livro Ensine os seus filhos a pensar (p.18) que:

“(…) o pensamento crítico é valioso apenas se tivermos um pensamento que seja construtivo e criativo. Não serve de nada utilizar rédeas se não se tem cavalo.”

 

Pensamento Criativo para totós 2
William Iven / Unsplash

Como não ser um totó do pensamento criativo

Deixo algumas sugestões para que possa aprender sobre pensamento criativo e, sobretudo, para que possa praticar:

 

  • os Mind Maps de Tony Buzan são outra ferramenta que não dispenso no meu dia-a-dia, pois permitem-me criar associações de ideias, trabalhar a síntese e pensar de forma irradiante, acompanhando o movimento natural do cérebro (breaking news: nós não pensamos por caixinhas);

 

  • a leitura é uma forma de exercitar a nossa imaginação que, segundo diz  António Damásio no documentário deus cérebro, é uma das maiores riquezas do nosso cérebro. Puxando a brasa à minha sardinha, partilho cinco sugestões de leitura na área da filosofia;

 

  • jogar. “Ah mas eu sou adulto, tenho lá tempo para jogar”. Jogar ou brincar é uma forma simples de criar outros pontos de vista sobre o mesmo e até poderá ajudar-nos a resolver problemas;

 

  • arriscar uma outra forma de fazer ou de dizer o mesmo. Um exercício simples: se a sua mão direita é a mão que mais ordena, experimente fazer as coisas com a mão esquerda. Abandone os talheres e passe a comer só com pauzinhos (vai exigir que encontre outras formas de cozinhar e também vai fazer com que coma mais devagar);

 

  • fazer perguntas. Registe as perguntas, em papel ou num suporte digital. Olhe para as perguntas e pergunte coisas  a essas perguntas. Perguntar “Porquê” pode ser profundamente criativo, pois ajuda-nos a olhar para os fundamentos e pode convocar-nos a outras formas de fazer / dizer / gerir / cozinhar, entre outros.

 

Antes de avançar nestas sugestões de “como”, pergunte-se: por que é que EU quero treinar o pensamento criativo? Depois, defina um plano, com base nas sugestões deste artigo ou noutras. Escreva esse plano. Divida esse plano em actividades de 20 minutos.

Olhe para a sua agenda e reserve 20 minutos todos os dias, dia sim dia não ou uma vez por semana. A frequência não tem de ser X ou Y, tem de ser a possível face à sua disponibilidade. É importante que se dedique e que imponha algum compromisso da sua parte.

A criatividade não é uma dádiva mística, é algo que se pode treinar. Vamos a isso?

 

Photo by Juan Marin on Unsplash

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