Quem acha que os temas da usabilidade têm apenas a ver com a vida digital, engana-se bastante, e é talvez por não se considerarem os seus princípios mais básicos na nossa vida comum, a razão de tantos problemas diários que podem ser facilmente evitados.
Armários de cozinha? Era o “problema” das férias, o que querem que vos diga. 🙂
Mas primeiro, usabilidade
De acordo com a norma ISO, usabilidade é:
é a medida pela qual um produto pode ser usado por usuários específicos para alcançar objetivos específicos com efetividade, eficiência e satisfação em um contexto de uso específico (ISO 9241-11)
Não comecem já a bocejar… de forma simples,
é o termo usado para definir a facilidade com que as pessoas podem usar uma ferramenta ou objeto para realizarem uma tarefa específica.
É claro que a nossa experiência com outras ferramentas ou objectos influencia a nossa percepção perante objectos novos, e isso facilita o seu uso.
De forma intuitiva, e porque já temos essa experiência, sabemos como se acende uma luz, se abre uma porta, ou não esperamos que uma seta que indica direita afinal nos leve para a esquerda.
Os seus princípios aplicados ao design de comunicação também podem ajudar a resolver situações como esta:

E a criar soluções mais perceptíveis para qualquer utilizador, isto é, um de nós que só precisa de saber se pode ou não estacionar o carro.

Don’t Make Me Think
É o titulo de um dos livros mais emblemáticos sobre o tema, e tudo porque efectivamente o seu autor, Steve Krug, percebeu que isto não é assim tão complicado.
Basta não complicar, simplificar, reduzir ao essencial, ser consistente com outras experiências e usos. E acima de tudo, não me faças pensar.
A nossa eterna briga com as portas e o puxe e o empurre? E nunca acertamos por maior que seja o aviso?

Podem comprá-lo nos sitios do costume.
Armários de cozinha?
Bom, já deixei claro que isto foi o problema das férias e portanto temos que relativizar a questão, mas não deixei de me divertir a encontrar a solução e a facilitar a vida à familia.
Claro que no meio do processo fui boicotado, mas isso só serviu para dar mais uma palestra sobre o tema e da sua importância na vida mundana. Imaginem agora a importância para as relações com interfaces digitais.
O problema
- Eram 5 portas, todas iguais, mas que abriam em conjuntos de 2, excepto 1.
- O puxador não destaca para que lado abrem, porque a forma é igual dos dois lados
- O utilizador comete vários erros ao tentar abrir, e claro, tenta sempre do lado errado
- O utilizador, que está de férias, perde o seu momento zen, o que é um problema de experiência
- Transforma-se uma ação simples num problema

A Solução
Seguindo o principio básico de não me faças pensar, a solução passava por simplesmente destacar o sitio para onde as nossas mãos se deviam dirigir e completar a ação de forma simples, rápida e sem dor.
Afinal de contas, só precisa da chávena para o café matinal.

Na impossibilidade de criar novas portas, montar outro tipo de puxadores, desmontar as portas para acesso rápido, decidi, pura e simplesmente, criar um destaque nos puxadores com as colheres de café, que sendo pequenas e brilhantes, cumpriam o objectivo:
- Destacavam e chamavam a atenção
- Tornaram-se o foco da atenção e da ação
- Permitiam cumprir a ação sem se pensar no assunto
FIM! 🙂
Usabilidade e Vida Digital
Resumindo, usabilidade não se aplica apenas ao mundo digital e à nossa relação com os muitos interfaces que nos acompanham ao longo do dia, desde o telemóvel ao computador, aos menus da televisão, dos elevadores, das máquinas de venda de bilhetes.
Criar e manter uma experiência simples e fácil é sempre um desafio, mas ter a noção de que quem está a usar o consegue fazer sem qualquer tipo de atrito é um prazer.
Portanto, se o seu negócio passa pelo desenho e construção de armários de cozinha, talvez seja bom trocarmos umas ideias sobre o assunto. 🙂
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