UXLx 2017, uma viagem ao futuro?
Já é verdade que o nosso mundo é digital e que vivemos no futuro. Só que, como ainda não vemos os carros a andar sozinhos e a falar como o Kitt, achamos que não.
O futuro é uma coisa lá longe, que se faz em Silicon Valley. É lá que se contam histórias de terror sobre como os robôs nos vão roubar o emprego.
Felizmente, depois acontecem coisas como a UXLx mesmo aqui em Lisboa e reúnem-se profissionais de Design, de User Experience (UX), de outras áreas da tecnologia e do Marketing.
São pessoas que não têm receio do futuro porque estão ocupadas a criá-lo.
Não sei se foi propositado, mas nos 4 dias de workshop e conferência sobressaíram dois temas: O Human-centered Design e os Super Humanos.
Um eixo que tão depressa nos puxa para a importância das emoções e da comunicação no seu lado mais romântico e relacional cheio de tons de cinzento como foca o pensamento mais analítico e racional, frio e de factos a preto e branco.
Os super humanos
Podíamos resumir este tema dizendo que os robôs chegaram, e os robôs somos nós.
A primeira apresentação foi da Jody Medich (@nothelga), exactamente com este tema.
Entre as explicações sobre como funciona o cérebro e como podemos melhorar a nossa produtividade ao usar melhor o espaço que nos rodeia, ela mostrou algumas das aplicações mais recentes da tecnologia.
VR / AR = Mixed Reality = Visualização
A estes sistemas de realidade aumentada juntamos ainda a aplicação da realidade virtual para fisioterapia, para tratamento de doenças oculares como a visão dupla (Diplopia) e mesmo na recuperação de lesões do sistema nervoso. Em alguns casos, houve alguma recuperação da ligação entre o sistema nervoso e músculos pela prática de fisioterapia acompanhada de um sistema de realidade virtual.
A visualização é um elemento poderoso e aplicar a tecnologia permite-nos executar processos de lógica com partes do nosso cérebro destinadas ao reconhecimento do espaço.
Esta abordagem teve seguimento na apresentação do Richard Banfield.
Design e Biologia
Sex, Drugs and The Infinite Scroll mostrou-nos como ainda há princípios da biologia que podem guiar a nossa interacção com a tecnologia e com estes super poderes que a Jody descreveu.
Um dos detalhes a retirar desta apresentação foi que, só quando compreendemos o caminho que fizemos até este ponto da humanidade, é que podemos começar a traçar o futuro. Outro, igualmente importante, foi o papel que as nossas emoções têm na interacção com a tecnologia.
Devemos, então, criar produtos, serviços, um sistema ou até uma Inteligência Artificial (IA) que nos faça sentir algo relevante para aquele contexto. Que nos faça sentir melhores, mais seguros e até mais inteligentes.
Neste ponto podemos começar a questionar onde está a barreira. Se a tecnologia se tornar demasiado eficaz em nos fazer sentir melhor, podemos colocar em risco a nossa motivação e o desejo de ir sempre mais longe? E se sim, até que ponto controlamos ou somos controlados pela tecnologia ou através dela?
É fácil começar a desfiar este novelo e formar uma teia de receios.
Human-Centered design
Os robôs também dão más notícias, e ao falar de Designing for Bad, Katy Mogal e Michael Winnick partilharam a sua pesquisa sobre como as Apps devem dar más notícias.
A Katy foi Head of UX para a Fitbit, uma empresa que faz sensores de fitness. Parte do estudo que apresentaram focava muito mais do que uma investigação analítica, tinha testemunhos reais de utilizadores.
Toda a nossa interacção com as máquinas e com a tecnologia vai aumentar e já participa no dia a dia de alguns de nós. O objectivo da abordagem Human-Centered é assegurar que essa interacção não é uma invasão mas sim uma simbiose.
É importante parar neste ponto e reforçar que ao falar de Design não estamos a falar de Design Gráfico. Neste contexto, Design refere-se ao processo para resolver um problema ou para construir produtos e serviços. É Design como desenho e concepção, arquitectura e estrutura de um sistema. Nesta visão mais abrangente, inclui as áreas de comunicação, psicologia e sociologia.
A abordagem de human-centered design reforça que esse processo deve ter sempre em conta a pessoa e o seu contexto ou vários contextos do dia a dia.
O processo de design
Numa apresentação irreproduzível, tivemos Jeff Patton a explicar como é importante o processo de design para ter o melhor retorno possível do nosso esforço. O destaque desta apresentação foi o mote “Looks good and is good is not the same thing!” que se transformou numa espécie de grito de guerra : Fight the suck!
Houve mais apresentações e workshops que focaram aspectos diferentes desta vertente. Os workshops de Content-First UX Design, Giving Voice to Your Voice Designs, e Storytelling in Design mostravam ter influências desta abordagem.
O que não se ouviu, foram receios sobre o impacto negativo da tecnologia.
Dos velhos do Restelo aos tecnocratas
Existem centenas de exemplos para falar do impacto da tecnologia na sociedade. A nossa forma de comunicar mudou com o Facebook e o Twitter, a Uber abalou o mercado de Taxi, com manifestações incluídas. Até a banca começa a ver o seu mundo mudar com as plataformas de crowdfunding e as transações por Bitcoins.
As tendências mais recentes estão a apontar para os chat bots e para a Inteligência Artificial como a próxima onda de inovação. O ano passado, a Gartner colocou no hype cycle Conversational User Interfaces, Virtual Personal Assistants e Smart robots.
Uma abordagem mais conservadora vai questionar se não vamos perder empregos para a tecnologia; os mecanismos para controlar a informação que os Personal Assistants podem ter de nós; e toda a dependência da tecnologia.
Arrisco-me a dizer que se perdermos o emprego para que seja contratado um robô, é porque estamos a fazer algo pouco interessante. Já para evitar o impacto da tecnologia, há pouco que possamos fazer. É impossível limitar por muito tempo a inovação tecnológica, a nossa vontade de construir e de imaginar é irresistível.
This is how the world ends.
Brenda Laurel levou-nos numa viagem pelo espaço e pelo tempo para conhecer uma série de civilizações perdidas.
Fomos conhecer a ilha da Páscoa devastada pela presença dos europeus, que transportavam doenças desconhecidas, e pelos vários episódios de guerra civil.
Visitámos Pompeia arrasada pela erupção do monte Vesúvio, a Europa que reagia em pânico à Peste Negra, os Anasazi (ou Ancestral Pueblo) que não resistiram às invasões de tribos vizinhas.
Nesta visão negra não faltou o terremoto de Lisboa em 1755, a camada de Ozono e o aquecimento global.
A apresentação final, que é geralmente o ponto alto da UXLx, levou muitas pessoas a um estado perplexo de confusão e depressão.
O desastre foi evitado quando a Brenda fez a ligação entre estas calamidades e a disciplina de User Experience.
Porque como profissionais e construtores deste mundo estamos a adoptar um conjunto de valores intrínsecos à profissão. A UX defende o utilizador e por consequência vai ter de procurar o melhor para toda a sociedade em que está inserida.
A mensagem positiva veio também com uma série de ideias para a ciência e para a sociedade. Coisas como a importância de partilhar informação, de incentivar o deslumbre e a investigação, de não ostracizar o falhanço como é comum em Portugal. Falhar acontece, e é através dos erros que aprendemos.
Um dos pontos comuns para a morte de alguma civilizações foi o isolamento, e fugir do futuro ou tentar abrandar-lhe o passo não é uma solução. (Também não se trata de alinhar a nossa forma de pensar com os velhos do Restelo ou os tecnocratas porque nos dois lados existem pontos válidos.)
Nós temos sempre escolha, ficar à espera da erupção do vulcão, como fizeram os habitantes de Pompeia a observar os sinais de alerta ou procurar soluções. E se não estamos contentes com o rumo que o futuro está a levar e com o que ele pode significar para nós, podemos arregaçar as mangas e ir construí-lo.
O que não podemos fazer é ter medo das curvas de aprendizagem ou achar que isto é um tema só para Designers, Programadores e Engenheiros.
UXLx 2018
Eventos como a UX Lx são uma oportunidade para toda a gente que tenha um bocadinho de interesse sobre as novas formas de comunicar, de viver em sociedade, de interagir com marcas e de criar produtos e serviços.
Cada um dos workshops e das apresentações seria razão para escrever mais 1500 palavras sobre o tema e podiam todos terminar com o mesmo grito: The future is broken, and we can fix it!
E assim foi a UXLx em 2017… para o ano há mais e as datas já foram anunciadas. Vão perder mais uma?
Se quiserem trocar ideias sobre UX Design, falem connosco.
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